STEINBECK,
John Ernest. A Pérola. Lisboa:
Livros do Brasil, 1996.
‘’A Pérola’’
é uma obra fascinante de John Steinbeck escrita em 1945 onde é tratada com
enorme sensibilidade e simplicidade a história de Kino e sua esposa Juana,
índios, que vivendo à margem da sociedade, encontram uma pérola com o objetivo
de pagar o tratamento de seu filho Coyotito, picado por um escorpião.
‘’A Pérola’’ é considerada uma
parábola por já ter sido contada várias vezes e ter se enraizado na mente das
pessoas e dela pode-se tirar belas lições de vida. A pérola que Kino procurava
muitos a procuram hoje. Por vivemos em uma época em que as pessoas não têm
tempo umas para as outras, muitas delas saem à procura de pérolas para que com
elas possam resolver seus problemas. As pérolas podem ser quem sabe riquezas,
amor, felicidade, etc. Como Kino vivia da pesca, foi aí que ele a buscou e
encontrou.
Um aspecto bastante ressaltado é a
dignidade da pessoa humana. Embora vivessem em um casebre, Kino e Juana não
buscavam em meios ilícitos o seu sustento e o de seu filho. Eles passavam fome,
seu filho dormia em um caixote e se percebe durante toda a leitura a
perseverança, a coragem e a persistência de Kino e Juana diante das atribulações. Suas vidas são verdadeiros exemplos de humildade não só para
aquela sociedade em que predominava a mesquinhez, mas para a atual, onde estão
presentes defeitos piores que este.
O médico nessa obra representa o
poder, o governo, o estado, a classe detentora da riqueza. Na obra, a família
de Kino é tratada como mero animal. Mais uma vez se vê a predominância do ter
sobre o ser, e onde só têm acesso à saúde aqueles que possuem capital. O
incrível é que essa obra, embora escrita há vários anos, não se desatualiza,
pois trata do social, de valores, da relação indivíduo/sociedade e os problemas
sociais continuam sem solução e ocorrem em todas as sociedades. No Brasil,
particularmente, não só os índios, mas negros e pobres são discriminados e não
têm um serviço público que atenda a sua demanda.
Kino e Juana não tiveram acesso à
educação e por mais que o medicamento feito por ela para curar seu filho fosse
eficaz, ela não pensava assim. Por retratar a vida do indivíduo em sociedade,
percebe-se muito a influência do pensamento da sociedade sobre o indivíduo, da
classe dominante sobre a classe dominada, do médico sobre Kino e Juana. Estes
preferiam acreditar na sua ignorância certa que no possível conhecimento do
médico.
E quando enfim a pérola é encontrada é
como se todos os problemas daquela sociedade pudessem ser resolvidos. As
máscaras começam a cair. Por trás delas são vistas a corrupção, a ganância e o
modo de vida do clero e a ambição e cobiça do médico e dos vendedores de
pérolas. É visto o retrato do mundo capitalista onde quem manda é o dinheiro. A
vida é levada ao rebaixamento total e os valores são abandonados pela
sociedade.
Todos os fatos ocorridos após
encontrar a pérola tornaram Kino um homem desconfiado, perseguido, angustiado.
A vontade de ser feliz e de mudar sua vida e a de sua família a qualquer custo
através da pérola passou a ocupar o primeiro lugar em sua vida, que mudou
completamente a partir de então. Acabou perdendo sua casa, sua paz, e ao fim de
tudo, seu filho, sua maior riqueza. Não conseguiu vender a pérola, devido ao
seu tamanho e valor, e ele acaba devolvendo-a ao lugar de onde ela veio: o mar.
. Enfim, é a história de como uma pérola
foi achada e de como ela se perdeu, levando consigo todas as esperanças de
mudar de vida. Na verdade, algo que poderia salvar a vida de um homem e de sua
família foi a sua ruína e desgraça e onde é coroada a vitória da sociedade
sobre o indivíduo.
Embora pequena em volume, ‘’A Pérola,
de John Steinbeck, é uma obra prima de grande beleza técnica, e simplicidade
vocabular em que é admirável a profundidade com que é investigada a alma
humana. Nela são revelados aspectos que estão presentes na vida de todos os
homens: amor, o ódio, a inveja, a dor. O amor dos pais por seu filho, o ódio e
a inveja dos ‘’dominadores’’ pelos ‘’dominados’’ e a dor da perda.
No livro, os protagonistas, que são
índios, vivem em uma sociedade em que sofrem preconceitos de todas as ordens.
Além de serem tratados como animais pelo médico, não ter dinheiro para pagar o
tratamento do filho, picado por um escorpião, torna-se uma agravante.
Steinbeck afirma que nessa história há
coisas boas e más, sem nada no meio. Assim são os personagens. Eles possuem
características bastante distintas que os enquadram no grupo dos bons ou dos
maus. Enquanto Kino é corajoso e perseverante e Juana amorosa e determinada, o
médico e o padre são ambiciosos, corruptos e traiçoeiros.
Kino e Juana são de certa forma,
impregnados por uma cultura e por valores que não são próprios da cultura de
seu povo e eles tentam adequar-se a esse mundo que não é o deles. Tanto é que o
futuro que ele sonha pra Coiotito após encontrar a pérola é um sonho americano.
No Momento em que Kino pretende vender
a pérola e mudar seu destino, os grandes não permitem, tentam persegui-lo e
engana-lo pelo fato de este não ser instruído. Por analogia, muitos governos
não investem em educação por não quererem alterar a ordem dominadores/dominados.
Para aqueles é preferível que as pessoas não tenham conhecimento de seus direitos
para que não questionem as injustiças sociais.
Kino acabou pagando um preço alto por
causa da ganância e cobiça dos que o rodeavam o que nos leva a desacreditar nos
valores da sociedade e a pensar que não se pode tentar mudar o que se acha
injusto, principalmente quando se está
sozinho ou sem o apoio da comunidade. E diante de tantas dificuldades, qualquer
motivação que possa haver nesse sentido é dissipada.
Também há o interesse em um mundo
governado por princípios capitalistas, onde as amizades duram enquanto durar a
riqueza da pessoa. Não se está interessado no valor vida, mas na condição
financeira. Nos é revelado até que ponto a inveja é capaz de levar uma pessoa e
o que é capaz de fazer com seus valores.
A sociedade é retratada fielmente, com
todas as suas misérias, injustiças sociais, mostrando a vida difícil não
somente dos índios e dos menos favorecidos da época, mas se compararmos, a de
uma realidade que perdura até hoje. Talvez por isso, Steinbeck considere essa
obra uma parábola. Para que dela possamos tirar lições de vida.
Quanto ao final, ele é triste porque Kino achava que a pérola seria a solução de seus problemas. Entretanto,
aquela foi responsável pela criação de novos. A sua vontade de mudar de vida
falou tão alto que ele levou seus atos às últimas consequências levando sua
família consigo e por falta de conhecimento deixou-se enganar por pessoas frias
e interesseiras. O preço: a vida de seu filho.
Estou lendo este livro e estou adorando!! Bela resenha! Abraços.
ResponderExcluirObrigada =)
ResponderExcluirMuito linda, crítica e sensível a sua resenha. Esse foi o primeiro livro adulto que li, aos 9 anos, por sugestão de minha mãe, ele me tocou profundamente.
ResponderExcluirObrigada!
ResponderExcluirOlá Florida. Acabei de ler esta parábola que é incrivelmente atual, pelo período a qual foi escrito. E gostei muito da sua resenha sobre o obra. Parabéns...
ResponderExcluirMuito obrigada Joseph!
ExcluirAdorei sua resenha, já terminei de ler o livro e vou fazer uma prova sobre ele hoje na facul. Obrigada por compartilhar sua opinião!
ResponderExcluir=) Feliz em ajudar
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