quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Resenha do livro "Educar pela Pesquisa", de Pedro Demo



DEMO,Pedro.Educar pela pesquisa.4.ed.São Paulo:Autores associados,2000.


Pedro Demo, em seu livro intitulado "Educar pela pesquisa", traz novos conceitos de educação, pesquisa e também desenvolve uma teoria sobre o questionamento reconstrutivo, aluno sujeito e aluno objeto, entre outros,indicando meios de romper com a educação tradicionalista.
Como se sabe,um dos objetivos da educação é desenvolver o ouvir, o falar, o ler e o escrever, ou seja, é formar a competência. O responsável pela educação dos alunos é o professor e como Pedro Demo afirma, para o professor, não basta ser um profissional da pesquisa, mas um profissional da educação pela pesquisa, que torne a pesquisa uma constante na sala de aula, de modo que o aluno deixe de ser objeto, aquele que não age,mas apenas ouve e recebe o conhecimento por osmose e passe a ser sujeito, aquele que busca o conhecimento.
À medida que o aluno se torna um sujeito ativo,ele passa a questionar o conhecimento e a realidade para saber o porquê das coisas,além de adquirir a independência crítica.Logo,este questionamento serve para renovar o conhecimento. Daí denominado ‘’questionamento reconstrutivo’’. O questionamento reconstrutivo é o cerne da pesquisa, que por sua vez é o cerne da educação. Pesquisa é a emancipação do aluno à medida que ele questiona a realidade.
O autor também compara educação e pesquisa,afirmando que ambas lutam contra a ignorância. ’’A pesquisa busca o conhecimento e a educação busca a consciência crítica. Ambas valorizam o questionamento. ’’A pesquisa se alimenta da dúvida,de hipóteses alternativas e superação de paradigmas; ela persegue o conhecimento novo.
A crítica feita consiste no fato de que muitas pessoas veem o professor como instrutor, e se for realmente só este o papel do professor,qualquer um pode ser professor. Precisa-se de professores pesquisadores, não considerando aqui pesquisa como a que é feita por mestres e doutores, mas como uma atividade cotidiana e cujo papel na escola é transformar o aluno objeto m aluno sujeito. Ele afirma que o aluno pesquisador deve ser como uma criança que a tudo questiona.Mas o ‘’problema’’ com que ele se depara é a escola,que preza pela disciplina.
Sobre o sujeito crítico, diz-se que ele questiona até na vida:há o telespectador crítico,a mãe crítica, que sabe ler o choro do bebê, o homem que usa a tristeza para crescer,etc. Mas não basta só pensar. É preciso produzir,pois competência é inovar,é questionar; é reconstruir o conhecimento todos os dias. Marcos Bagno em seu livro pesquisa na escola, oferece dicas e alternativas de como trabalhar gramática na escola através da pesquisa, tornando a disciplina mais interessante.
Já foi dito que educação forma a competência e busca a consciência crítica.Mas de que maneira isso deve ocorrer? Através da orientação dos trabalhos em conjunto pelo professor. Quanto às propostas do autor, ele diz que o professor deve repensar o trabalho em equipe para que um componente não fique com todo o peso nas costas e os demais e os demais não fiquem ociosos;ao invés de carteiras, que houvesse mesas redondas; ao invés de silêncio, barulho de questionamentos; incentivar o aluno a procurar livros, textos, fontes; evitar dar tudo pronto, mas pra isso, a escola deve possuir biblioteca, laboratórios...
O professor que apenas enche a cabeça dos alunos de coisas reforça a sua condição de objeto. Ele deve aproveitar o que o aluno traz de fora, pois não é possível criar conhecimento novo, mas o reconstruimos a partir do que já existe. O aluno precisa ser motivado a avançar na autonomia da expressão própria. Portanto, no conceito de pesquisa,é mister haver a relação teoria/prática. O aluno pesquisador é motivado a buscar, ler, querer saber mais, duvidar, deixar para traz a condição de objeto. Ele passa de informado a informante.
Agora o que fazer para motivar o aluno a desenvolver seu questionamento reconstrutivo? Concorda-se com a solução proposta por Pedro Demo, quando ele enfatiza a importância de motivações lúdicas e o hábito da leitura,o apoio familiar e o uso intensivo do tempo escolar. Mas o professor só pode cultivar esses hábitos nos alunos se ele tiver esses hábitos e para isso, o professor precisa se expressar de maneira fundamentada,exercitar o conhecimento sempre,a formulação própria, cotidianizar a pesquisa, além de refazer o material didático,inovar a prática didática,construir textos científicos e recuperar constantemente a competência.
Quanto à forma de avaliação, preconiza-se o acompanhamento dos alunos, o interesse pela pesquisa, as elaborações próprias e a participação ativa. O aluno deve saber que ele é avaliado todos os dias.Todas essas considerações acerca de educar pela pesquisa é com o fim de combater o fracasso escolar,cuja culpa é , em parte,do sistema e em parte do alfabetizador que dá aula copiada. A formação da competência do aluno tem a ver com a competência do professor e exatamente por ainda hoje se ter a visão de que dar aula é fácil é que não se tem investido na condição profissional do professor., e às vezes o próprio professor não vê a necessidade de se recapacitar .
Não há pesquisa somente na escola, mas também e principalmente na Universidade. Há uma grande expectativa ao se entrar na universidade acerca do que é pesquisa e muitos jovens acabam se decepcionando ao sair da universidade,pois percebem que educação superior é um entupimento teórico - sistemático e o tempo letivo se resume a aula copiada e prova. ’’Mesmo nas públicas ainda há professores que só se preocupam em dar aula e ensinar a copiar ainda que nessa faz cresça a pressão sobre a necessidade da pesquisa. ’’Acaba se formando uma elite acadêmica de professores pesquisadores que se acham especiais. Assim a universidade joga fora a chance de postar-se no centro do desenvolvimento humano.
     Somente uma população competente, munida da capacidade de questionamento reconstrutivo sólido seria capaz de contrapor-se ao processo excludente. Quem faz greves? uma população conhecedora de seus direitos ou uma ignorante?É preciso prezar pela cidadania acadêmica para mudar a história. A pesquisa é a razão de ser da universidade e a base da transformação do mero ensino em educação.
Na universidade,assim como na educação básica,deve haver a recuperação permanente da competência,do fazer para o saber fazer e sempre refazer. É preciso inovar e renovar sempre pois vivemos na era da informação e hoje em dia a graduação não é o bastante devido ao envelhecimento rápido de qualquer profissionalização e importa mais qualidade do que quantidade de informação. Por isso a importância de atualizar-se permanentemente.
Pedro Demo alerta que na universidade há aula copiada.De acordo com Werneck: ’’O professor finge que ensina e o aluno finge que aprende;preocupado,toma nota,reproduz na prova. ’’Professor que reprova a maioria dos alunos está reprovado. Professor bom é aquele que faz pessoas comuns gostarem de matemática.’’Se na escola o professor não precisa ser um profissional da pesquisa,já que é um profissional da educação pela pesquisa,na universidade pesquisa é profissão. Deve-se desde o início incentivar a pesquisa na universidade pra que o aluno produza sempre e para que a monografia não o pegue desprevenido.Na maioria das vezes, a monografia é a primeira vez que o aluno produz algo. Não é à toa que muitos fazem monografia de encomenda.
A banalização começa com a própria banalização da profissão:qualquer um que dê aula ou coisa parecida é professor. Portanto, se educação é um processo de formação da competência humana,educar pela pesquisa é trabalhar a competência emancipatória e a competência se alimenta do questionamento reconstrutivo. Logo,cada aluno,em nome da emancipação,precisa tomar iniciativa e tapar seus buracos por si mesmo. Não faz sentido que aprenda somente o que consta nos cursos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DEMO,Pedro.Educar pela pesquisa.4.ed.São Paulo:Autores associados,2000.

BAGNO,Marcos.Pesquisa na Escola: o que é, como Se Faz.São Paulo:Edições Loyola,2003.

Resenha da Obra "A Pérola", de John Steinbeck



STEINBECK, John Ernest. A Pérola. Lisboa: Livros do Brasil, 1996.      

‘’A Pérola’’ é uma obra fascinante de John Steinbeck escrita em 1945 onde é tratada com enorme sensibilidade e simplicidade a história de Kino e sua esposa Juana, índios, que vivendo à margem da sociedade, encontram uma pérola com o objetivo de pagar o tratamento de seu filho Coyotito, picado por um escorpião.
‘’A Pérola’’ é considerada uma parábola por já ter sido contada várias vezes e ter se enraizado na mente das pessoas e dela pode-se tirar belas lições de vida. A pérola que Kino procurava muitos a procuram hoje. Por vivemos em uma época em que as pessoas não têm tempo umas para as outras, muitas delas saem à procura de pérolas para que com elas possam resolver seus problemas. As pérolas podem ser quem sabe riquezas, amor, felicidade, etc. Como Kino vivia da pesca, foi aí que ele a buscou e encontrou.
Um aspecto bastante ressaltado é a dignidade da pessoa humana. Embora vivessem em um casebre, Kino e Juana não buscavam em meios ilícitos o seu sustento e o de seu filho. Eles passavam fome, seu filho dormia em um caixote e se percebe durante toda a leitura a perseverança, a coragem e a persistência de Kino e Juana diante das atribulações. Suas vidas são verdadeiros exemplos de humildade não só para aquela sociedade em que predominava a mesquinhez, mas para a atual, onde estão presentes defeitos piores que este.
O médico nessa obra representa o poder, o governo, o estado, a classe detentora da riqueza. Na obra, a família de Kino é tratada como mero animal. Mais uma vez se vê a predominância do ter sobre o ser, e onde só têm acesso à saúde aqueles que possuem capital. O incrível é que essa obra, embora escrita há vários anos, não se desatualiza, pois trata do social, de valores, da relação indivíduo/sociedade e os problemas sociais continuam sem solução e ocorrem em todas as sociedades. No Brasil, particularmente, não só os índios, mas negros e pobres são discriminados e não têm um serviço público que atenda a sua demanda.
Kino e Juana não tiveram acesso à educação e por mais que o medicamento feito por ela para curar seu filho fosse eficaz, ela não pensava assim. Por retratar a vida do indivíduo em sociedade, percebe-se muito a influência do pensamento da sociedade sobre o indivíduo, da classe dominante sobre a classe dominada, do médico sobre Kino e Juana. Estes preferiam acreditar na sua ignorância certa que no possível conhecimento do médico.
E quando enfim a pérola é encontrada é como se todos os problemas daquela sociedade pudessem ser resolvidos. As máscaras começam a cair. Por trás delas são vistas a corrupção, a ganância e o modo de vida do clero e a ambição e cobiça do médico e dos vendedores de pérolas. É visto o retrato do mundo capitalista onde quem manda é o dinheiro. A vida é levada ao rebaixamento total e os valores são abandonados pela sociedade.
Todos os fatos ocorridos após encontrar a pérola tornaram Kino um homem desconfiado, perseguido, angustiado. A vontade de ser feliz e de mudar sua vida e a de sua família a qualquer custo através da pérola passou a ocupar o primeiro lugar em sua vida, que mudou completamente a partir de então. Acabou perdendo sua casa, sua paz, e ao fim de tudo, seu filho, sua maior riqueza. Não conseguiu vender a pérola, devido ao seu tamanho e valor, e ele acaba devolvendo-a ao lugar de onde ela veio: o mar.
. Enfim, é a história de como uma pérola foi achada e de como ela se perdeu, levando consigo todas as esperanças de mudar de vida. Na verdade, algo que poderia salvar a vida de um homem e de sua família foi a sua ruína e desgraça e onde é coroada a vitória da sociedade sobre o indivíduo.
Embora pequena em volume, ‘’A Pérola, de John Steinbeck, é uma obra prima de grande beleza técnica, e simplicidade vocabular em que é admirável a profundidade com que é investigada a alma humana. Nela são revelados aspectos que estão presentes na vida de todos os homens: amor, o ódio, a inveja, a dor. O amor dos pais por seu filho, o ódio e a inveja dos ‘’dominadores’’ pelos ‘’dominados’’ e a dor da perda.
No livro, os protagonistas, que são índios, vivem em uma sociedade em que sofrem preconceitos de todas as ordens. Além de serem tratados como animais pelo médico, não ter dinheiro para pagar o tratamento do filho, picado por um escorpião, torna-se uma agravante.
Steinbeck afirma que nessa história há coisas boas e más, sem nada no meio. Assim são os personagens. Eles possuem características bastante distintas que os enquadram no grupo dos bons ou dos maus. Enquanto Kino é corajoso e perseverante e Juana amorosa e determinada, o médico e o padre são ambiciosos, corruptos e traiçoeiros.
Kino e Juana são de certa forma, impregnados por uma cultura e por valores que não são próprios da cultura de seu povo e eles tentam adequar-se a esse mundo que não é o deles. Tanto é que o futuro que ele sonha pra Coiotito após encontrar a pérola é um sonho americano.
No Momento em que Kino pretende vender a pérola e mudar seu destino, os grandes não permitem, tentam persegui-lo e engana-lo pelo fato de este não ser instruído. Por analogia, muitos governos não investem em educação por não quererem alterar a ordem dominadores/dominados. Para aqueles é preferível que as pessoas não tenham conhecimento de seus direitos para que não questionem as injustiças sociais.
Kino acabou pagando um preço alto por causa da ganância e cobiça dos que o rodeavam o que nos leva a desacreditar nos valores da sociedade e a pensar que não se pode tentar mudar o que se acha injusto,  principalmente quando se está sozinho ou sem o apoio da comunidade. E diante de tantas dificuldades, qualquer motivação que possa haver nesse sentido é dissipada.
Também há o interesse em um mundo governado por princípios capitalistas, onde as amizades duram enquanto durar a riqueza da pessoa. Não se está interessado no valor vida, mas na condição financeira. Nos é revelado até que ponto a inveja é capaz de levar uma pessoa e o que é capaz de fazer com seus valores.
A sociedade é retratada fielmente, com todas as suas misérias, injustiças sociais, mostrando a vida difícil não somente dos índios e dos menos favorecidos da época, mas se compararmos, a de uma realidade que perdura até hoje. Talvez por isso, Steinbeck considere essa obra uma parábola. Para que dela possamos tirar lições de vida.
Quanto ao final, ele é triste porque Kino achava que a pérola seria a solução de seus problemas. Entretanto, aquela foi responsável pela criação de novos. A sua vontade de mudar de vida falou tão alto que ele levou seus atos às últimas consequências levando sua família consigo e por falta de conhecimento deixou-se enganar por pessoas frias e interesseiras. O preço: a vida de seu filho.